Há cerca de dois anos
atrás, reproduzi, no meu blog (aqui) e em sala de aula, um trecho de uma matéria
publicada na Revista Agitação (ed. 131 – Setembro/Outubro 2016) com essa mesma
proposta. Foi, inclusive, assunto de algumas reuniões em determinadas
Instituições de Ensino Superior (IES).
Muito bem, com a
situação do país e, consequentemente da Educação, piorando consideravelmente de
lá para cá, hoje, conversando com meus amigos, também professores
universitários, o tema voltou forte à tona. Dois aspectos foram considerados:
- o primeiro foi em
relação a pergunta que ficou sem resposta do artigo, ou seja, com jovens até 25
anos compondo 45%, ou quase 5,4 milhões, dos 12 milhões de desempregados hoje
no Brasil (dados desatualizados, esse número já cresceu consideravelmente),
como estimular, com uma economia ainda mergulhada na recessão, a expansão da
oferta de vagas para assegurar uma boa formação profissional às novas gerações?
-
o segundo, refere-se ao descaso com a profissão que já não era valorizada. O
fato é que algumas IES vêm adotando políticas do mundo corporativo, ou seja,
vale tudo para aumentar o número de alunos em detrimento, inclusive, da
qualidade do serviço prestado. A desvalorização dos professores, em geral,
nunca foi tão acentuada. Somos peças numa engrenagem que hoje o indicador mais
importante passou a ser quantitativo (leia-se: quanto maior o número de alunos,
melhor).
O
assunto é mais sério do que muitos imaginam. Algumas redes estão, inclusive,
com o método de aperfeiçoamento contínuo e padronização. Falando isso de outra
forma, os nossos planos de ensino, com descrição aula a aula e zero
flexibilidade, transforma-nos todos em um. Sem diferenciação entre qualquer
professor – bacharel, especialista, mestre ou doutor - será apenas um
replicador do padrão. Com o tempo, novas metodologias, recursos, modismos que
tentarão criar a tal “diferenciação” em um mercado, até então, “commoditizado.”
Por isso que, infelizmente, o barato sairá barato por muitos e muitos anos....
mas, a longo prazo será desastroso para essa e as próximas gerações (sob a
ótica acadêmica).
Mantendo
apenas 30%, que é obrigatório (exigido pelo MEC), de docentes com mestrado ou
doutorado. A nova ordem é para priorizar especialistas, ou seja, mestres e
doutores sendo demitidos pouco a pouco e, essas mesmas instituições, começam a
oferecer altos descontos para atrair alunos. A famosa concentração de mercado
com baixo custo (produtos low-cost).
Mas
afinal, estamos falando de liderança em custo ou diferenciação? Não há meio
termo. Os caras têm que sacar que crescer não é o mesmo que desenvolver. E o
caminho mais rápido para a queda é o crescimento sem o correto planejamento,
isto é, redução de custo não é suficiente para a sustentabilidade do negócio.
Deming (1900-1994) já ensinava isso há 70 anos atrás.
Será
que em ano de eleições majoritárias, ninguém percebeu ainda que a estratégia acadêmica está equivocada?
Nas
áreas de Comunicação e Marketing então esse fenômeno é notório, professores
desatualizados, cansados e esperando a hora da aposentadoria. Os alunos também
não querem nada, seus níveis de interesses são baixíssimos e a dispersão é
inversamente proporcional. Poucos são os que realmente têm algum objetivo; a
maioria se contenta em aprender conteúdo do século passado e, no final do curso,
pegar o canudo. Doce ingenuidade...
Aí
um amigo, no calor da discussão, diz que o mercado das instituições de ensino
superior mudou muito. E ele tem razão! Não há como negar que elas se tornaram
empresas, verdadeiros conglomerados que visam apenas, e lamentavelmente, o
lucro.
Calma
lá, mas você é contra o mercado, a competição, a concorrência, o lucro? Claro
que não, desde que tenhamos estratégia, acadêmica e mercadológica, à longo
prazo. Assim como Adam Smith (1723-1790), filósofo escocês, também não vejo a
competição como algo negativo, e sim positivo. Afinal é ela que nos faz mais
eficientes e produtivos.
Ele
dizia que o sucesso econômico de qualquer país depende basicamente de três
coisas: o interesse de sua população, a sua capacidade de competir, e o seu
respeito pela autonomia do mercado.
Não
acredito que Adam Smith não achava que a educação deveria seguir os mesmos
princípios que regem o funcionamento econômico. Achava que a educação poderia
enriquecer um país, tanto quanto o dinheiro.
É
óbvio que a nossa sociedade é competitiva. E isso se manifesta lá nos
primórdios da nossa educação, no ensino fundamental. Desde o começo, somos
classificados com toda essa burocracia sobre habilidades e capacidades. Eles
impõem temas que não temos interesse. Por exemplo, por que os alunos devem
cursar matemática, não bastaria saber as operações básicas? Por que estudar
artes, que é legal, e não fotografia, cinema ou teatro? Os alunos têm que se
adaptar ao sistema, gostem ou não, por quê?
As
salas de aula parecem como as fábricas das quais Smith falava. Hora de entrada,
sirenes, materiais especializados e, acima de tudo, o mais importante, a data
de fabricação. As crianças entram no sistema por faixa etária. Por que tem que
ser sempre assim? Não seria bom usarmos outros critérios?
É
retórica a afirmação que o sistema educacional está ultrapassado. Então, estamos
numa cadeia de produção com planos de estudos padronizados, professores
automatizados e alunos limitados. Como diriam os franceses, atuais campeões do
mundo de futebol: Eh bien voilà! C’est
foutu!